Ler
ou não ler, eis a questão! Se tem uma coisa na cultura brasileira que parece
ter gerado um sentimento de conformação, é o fato do brasileiro não gostar de
ler. Bom, pelo menos é o que se diz: o brasileiro não lê nada, tem preguiça,
não gosta de ler.
Permitam-me, porém, discordar desse
julgamento. O brasileiro gosta sim de ler. Nós brasileiros, aliás, lemos muito.
Ninguém pode dizer que o brasileiro não goste de ler. Se você está achando que
sou um louco, peço, porém, que analise a vida do brasileiro: o brasileiro não
costuma, é verdade, ler livros, mas ler, bom, ele lê sim. O brasileiro passa
horas por dia trocando mensagens no Whatsapp; conversa também via facebook,
passa vários minutos vendo postagens que trazem imagens com... algumas frases.
Querendo ou não, ele está lendo. O brasileiro está a todo tempo lendo: seja
postagens em redes sociais, seja matérias em sites esportivos sobre seu time de
futebol. O brasileiro pode não ler algo de útil, mas que ele lê, bom, ele lê
sim, senhor!
Se nós queremos criar o hábito da
leitura, ou melhor, se nós queremos ter o gosto, a paixão, o amor por ler, pelo
conhecimento, e fazer com que seja impregnada na cultura brasileira este mesmo
sentimento; precisamos sair do pré-julgamento de que o brasileiro não lê nada,
reconhecendo que ele lê alguma coisa, para poder fazer o seguinte
questionamento: porque o brasileiro passa vários minutos, talvez horas, lendo
postagens no Facebook, mas é incapaz de pegar um livro para ler até o fim?
Feita essa pergunta, poderemos chegar a
uma solução para este problema cultural do brasileiro. Sabe porque o brasileiro
lê sem reclamar um texto falando da nova contratação do seu time de futebol, lê
mensagens na rede social, mas não lê o livro? Porque nos primeiros casos, em
que ele lê, ele faz porque gosta; já no segundo, é algo entediante. Ou seja, o
brasileiro lê aquilo que gosta. Aliás, de maneira geral todos nós lemos o que
gostamos. Obviamente em outro contexto, como na vida acadêmica, por exemplo,
você poderá ler algo que lhe cause um certo desgosto, mas é um outro contexto.
O que estou aqui falando é que, as crianças e jovens não gostam de ler, não
criam hábito de leitura, porque não há verdadeiro incentivo para ler.
Como você fará com que seu filho ou
seus alunos gostem de ler? Não vai ser dando a Constituição para ele lê que você
conseguirá isso. Se você ainda não compreendeu, tentarei ser mais claro. O Prof.
Pierluiggi bem ensinava em suas palestras como ensinar alguém a gostar de ler:
fale para a criança ou adolescente escolher um livro: gostou? Está chato a
leitura? Para de ler e escolhe outro para ler. Está chato também? Faz a mesma
coisa. Ou seja, uma hora ele achará um livro que ele GOSTARÁ, que trará prazer
em ler, que fará ter vontade de ir até o final. É dessa maneira que se fará
nascer um leitor. Se você simplesmente pega um livro, joga no colo do jovem, e
constrange-o a ler de qualquer jeito, muito provavelmente, se este jovem conseguir
ler o livro, ele não criará desejo de voltar a ler livros do tipo. Mas se você
usa a técnica do parar de ler e partir para outro, até achar um livro que
goste, você sempre estará lendo algo, e uma hora achará um que lhe dê gozo.
Ora, cada ser tem sua personalidade, nem todo livro é para todas as pessoas,
nem todas as pessoas gostam do mesmo livro.
Após ter ouvido esta dica do Professor
Pierluiggi, lembrei-me de quando tinha 13 anos e estava na oitava série. A
professora de português indicou um livro que falava de literatura em geral -
coisas bem teóricas; mas que no meio do livro havia uma história de ficção. Na
época eu não gostava de ler. Li aquela história a pulso! Pense em uma história
chata! Tratava-se de uma história de um chinês que se alimentava de papel e
bebia tinta por causa de uma maldição, aí alguém disse uma palavra, ele é
liberto, se não me engano apareceu morto com um bilhete que, se não me engano,
dizia “obrigado”. Que diabo de história é essa? Hoje me pergunto: é sério mesmo
que queriam incentivar adolescentes a terem gosto pela leitura com uma história
bizarra e chata como esta?
Talvez por isso, o primeiro (e único)
livro que me recordo que li no período do Ensino Médio, foi o Alto da
Compadecida (sim, por causa do filme!). No Ensino Médio os alunos leem algo,
mas de maneira constrangida, porque são obrigados porque cai nas provas do PAS.
Ou seja, leem só as histórias chatas que o sistema educacional obriga. Aliás,
isso quando leem, porque se tiver filme inspirado na obra.... Vocês sabem!
Eu não sou um grande leitor, um cara
que lê de maneira compulsiva. Ainda estou engatinhando. Porém, tenho a plena
certeza de que para se iniciar na leitura é preciso ler o que se gosta. Eu
comecei a ter gosto pela leitura ao começar a ler as sagradas escrituras e
demais livros ligados ao catolicismo. E mesmo assim com muita dificuldade. Como
começar a gostar de ler, então? Leia coisas que goste. Deixe seu/sua filho(a)
ler coisas (morais, claro) que lhe agrade, tais como os mitos, as aventuras, etc.
Se nós não começamos a ler pelo que gostamos, nunca leremos porque é
necessário.
Do gosto, vai-se pela necessidade, até ler
por amor. Se não incentivarmos a leitura, dessa forma, para as crianças
alfabetizadas e para os adolescentes, nós continuaremos a ler muito, só que, em
suma, só besteiras nas redes sociais.